O Brasil gera 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e ocupa o
quarto lugar no ranking mundial de produção de lixo. Os dados são da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais), que também estima que 40% desse total ainda têm destinação imprópria, para os 2.707 lixões a céu aberto do país,enquanto a taxa de reciclagem permanece em patamares inferiores a 4% na média nacional. Para o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) traz diretrizes modernas e ambiciosas, mas a cadeia ainda tem muitas barreiras que incluem falta de incentivo tributário e econômicos, mercados não estruturados e competição desleal com as unidades irregulares como lixões e aterros sanitários.
“Temos uma política que prioriza a recuperação dos materiais, mas não temos uma política econômica, fiscal e tributária alinhada com essa diretriz.”
Ele participou de uma mesa de debate do seminário Meio Ambiente, promovido pela Folha. Foi consenso entre os debatedores que falta mais organização e profissionalização do setor, além do alinhamento da cadeia produtiva.
A gerente do Centro Sebrae de Sustentabilidade, Helen Camargo de Almeida, conta que as principais demandas que a organização recebe de de potenciais investidores que querem entrar no ramo estão relacionadas com logística. Dificuldade tecnológica de sistematizar processos e a falta de um programa de gerenciamento integrado ao município são alguns exemplos.
Esse cenário fragmentado acaba por desestimular: uma pesquisa do Sebrae com mais de 1.800 pequenos empresários em 2019 mostrou que 81% deles já tentaram implantar algum modelo de gerenciamento de resíduos, mas não avançaram porque não havia um mercado estruturado.
Para que essas políticas funcionem, “é preciso ter um amparo que envolve a indústria, conecta todos os atores, desde o microempreendedor até o catador”, diz Almeida. Hoje, ela diz que muitos empreendedores enxergam a gestão de resíduos não só como uma ação de sustentabilidade, mas uma forma de reduzir custos.
Para Estevão Braga, head de sustentabilidade de América do Sul da Ball Corporations, maior fabricante de embalagens de alumínio do mundo, é preciso buscar sistemas que considerem a eficiência dos materiais, inclusive economicamente. “As embalagens têm diferentes preços pós-consumo e isso determina suas chances de reciclagem.”
As latinhas de alumínio, por exemplo, podem ser recicladas infinitamente, e tiveram taxas acima de 94% nos últimos anos no país. Algumas embalagens, porém, após a terceira reciclagem voltam para a cadeia como materiais de valor inferior e, sem uso no mercado, são descartados. Estevão afirma que falta uma reforma tributária verde: “O processo é bitributado, ou seja, você paga novamente quando o material entra num fluxo de reciclagem”.
Ele ainda avalia que falta conscientização e esforço da população na hora de consumir e descartar. Uma pesquisa da Abrelpe de 2017 mostrou que 98% dos entrevistados achavam a reciclagem importante, mas apenas 15% reciclavam seu lixo. (Fonte: Folha de São Paulo)