Por mais importantes e indispensáveis que sejam, a separação dos resíduos recicláveis e os programas de logística reversa não são suficientes para garantir a rastreabilidade e a reciclagem de todo o plástico usado no Brasil, por exemplo. Isso porque, infelizmente, apenas 22% dos municípios brasileiros desenvolvem soluções para o plástico, que é hoje um dos maiores poluentes a ser combatido.
É incontestável que o plástico está em absolutamente todos os lugares e nos acompanha no dia a dia. Da caneta ao computador, dos utensílios domésticos aos eletroeletrônicos, das embalagens aos materiais descartáveis usados no setor de saúde. Para onde olharmos, certamente veremos uma forma diferente de aplicação do plástico. O fato é que, por mais útil que essa matéria-prima seja, é obvio que seu uso extrapolou os limites aceitáveis, tornando-se uma preocupação mundial.
Não é de hoje que os ambientalistas vêm alertando para o problema. Em 1997, Charles Moore identificou uma ilha de plástico no oceano Pacífico e desde então ela só aumentou. Hoje chega a ter 10 kg de plástico por quilômetro quadrado e mede três vezes o tamanho da soma das áreas da Espanha, França e Alemanha. Se continuarmos neste ritmo, até 2050 haverá mais plástico do que fauna nos mares.
A engenheira ambiental da Associação Pró-Ensino de Santa Cruz (Apesc), no Rio Grande do Sul, Andréia Ulinoski Pereira, explica que cada tipo de plástico tem um tempo de decomposição diferente, dependendo da sua composição. “Diversos fatores interferem nesse processo, tais como temperatura, umidade e oxigênio. Estudos revelam que sacos e sacolas plásticas levam mais de cem anos para se decompor, fraldas descartáveis demoram cerca de 450 anos e garrafas plásticas, de 200 a 600 anos”, informa.
Mas antes de se decompor, ele vira microplástico. Se quebra em milhares de pedacinhos, que e aparecem depois em rios, oceanos, solos, na comida e até no nosso corpo. Além de já terem sido encontrados no estômago de animais marinhos, os micropláticos foram vistos na placenta e no pulmão de humanos.
Derivado do petróleo, o plástico também está presente em produtos como nos fios de roupas, tintas, acabamentos de móveis e esmaltes de unhas. Por isso, é quase impossível afirmar que um dia ele poderá ser extinto do cotidiano. Dessa forma, o ideal é reduzir ao máximo seu consumo e optar por embalagens retornáveis.
Uma das formas de garantir a destinação correta e a rastreabilidade dos resíduos é encaminhá-los diretamente para as cooperativas de reciclagem e impacto social. Mas também temos que sair da zona de conforto e retomar antigos hábitos ou encontrar novas soluções para reduzir o uso dessa matéria.
Reprograme-se
Veja a seguir algumas orientações para se reprogramar e tentar reduzir, o máximo possível, o uso de plástico no seu cotidiano.
1. Antes de comprar, questione sempre se aquela compra com plástico é realmente necessária e se não existe uma alternativa acessível.
2. Não saia jogando fora todos os plásticos que você tem. Pelo contrário: use até não poder mais, descarte com responsabilidade para garantir a rastreabilidade e a reciclagem.
3. Escolha uma garrafa reutilizável e a mantenha sempre higienizada. Leve-a com você sempre. O mesmo vale para quem gosta de canudos: tenha um de inox ou bambu na bolsa ou mochila. No trabalho, adote uma caneca para tomar café.
4. Invista em sacolas de tecido e as mantenha sempre no carro/bolsa/mochila. Isso evita o esquecimento e uso desnecessário de sacolas plásticas em compras não programadas. Se esquecer sua sacola em casa, procure caixas de papelão que a loja disponibiliza.
5. Opte por locais que vendam produtos de boa procedência à granel. Leve potes para acondicionar os produtos. Na hora de carregar, opte por ecobags ou caixas. Se forem muitos itens e pesados, aqueles carrinhos de feira dão conta do recado. Ao comprar refrigerantes ou sucos prefira as garrafas retornáveis.
6. Os potes plásticos liberam microplásticos para seu alimento, então a sugestão é utilizar potes de alumínio, inox ou vidro para armazenar seus mantimentos. Eles são mais caros, mas você pode ir substituindo os de plástico aos poucos. Sacos de papel são sempre boas alternativas para guardar alimentos delicados na geladeira.
7. Shampoos e condicionadores sólidos e produzidos artesanalmente, geralmente vêm em embalagens sem plástico e são excelentes opções. Na hora de higienizar os ouvidos, opte por hastes flexíveis de papel. E quando for escovar os dentes, se renda ao charme e a sustentabilidade das escovas de bambu.
8. Se você usa lâminas de barbear/depilar, volte algumas décadas e invista em um aparelho reutilizável de inox. Vale demais o investimento.
9. No caso de uso de absorventes, tente se adaptar às calcinhas coletoras e coletores de silicone cirúrgico. Ambos reutilizáveis.
10. Fique de olho em possíveis práticas de greenwashing (estratégias de propaganda enganosa que podem ser praticadas por empresas, indústrias, organizações não governamentais (ONGs) ou governos em relação à sustentabilidade de suas organizações) e apoie empresas em transição para produtos sem plástico e/ou logística reversa para reciclagem.
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