Muito à frente da taxa brasileira de 2,1%, o sucesso de Jaraguá é atribuído ao engajamento da população e às cooperativas de reciclagem
Com um sistema eficiente de gestão dos serviços de resíduos sólidos, o município de Jaraguá do Sul alcançou 27% de reciclagem de todo o material que é coletado na cidade. Embora pareça pouco, é muito se comparado ao índice nacional.
Segundo dados de 2019 do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), o país recicla apenas 2,1% do total de resíduos coletados.
Além disso, de acordo com o PNRS (Plano Nacional de Resíduos Sólidos) de 2020, somente 41,4% da população brasileira tem acesso à coleta seletiva, mas a meta até 2040 é chegar aos 72,6% de cobertura e taxa de 20% de reciclagem, ou seja, 10 vezes mais do que os números atuais.
Para a gerente de Resíduos do Samae em Jaraguá do Sul, Morgana Decker, o índice municipal elevado é atribuído ao planejamento e ações exclusivas, à conscientização da população (mais de 60% dos moradores separam resíduos) e ao estímulo do crescimento das cooperativas – com treinamentos e gerenciamento das atividades dos recicladores.
Outro ponto importante é a realização de campanhas que estimulam a separação dos resíduos, como o Programa “Saco Verde” que consiste na distribuição de 200 mil sacos a cada cinco semanas para os moradores acondicionarem o material destinado à coleta seletiva.
A cada entrega são deixadas cinco unidades de sacos verdes por residência, pela empresa responsável pelo serviço de coleta seletiva no município. Nos condomínios, são os síndicos ou administradoras terceirizadas que fazem a retirada dos sacos verdes na sede do Samae, distribuindo posteriormente aos apartamentos.
Os sacos são adquiridos por meio de processo licitatório tipo registro de preço, realizado anualmente pelo Samae e são fabricados em material reciclável, com capacidade de 100 litros, que ao final retornam para o ciclo de reciclagem.
Somente no ano passado, Jaraguá destinou à reciclagem cerca de 7.600 toneladas de materiais recicláveis, equivalente a uma média mensal de 633 toneladas. A expectativa, porém, é coletar mais de 8 mil toneladas de material reciclável em 2021 e distribuir gratuitamente 2,4 milhões de sacos verdes – que custam R$ 1,2 milhão por ano ao município.
“O que era considerado um custo para a prefeitura vai se transformando cada vez mais em oportunidade. A participação das pessoas tem sido essencial para o sucesso deste projeto”, diz o prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli, sobre a coleta seletiva no município e o Programa Saco Verde.
Coleta seletiva na prática
Em Jaraguá, a coleta seletiva é feita semanalmente por três caminhões baú e seis equipes de coleta, na área urbana e rural, por uma empresa contratada. O serviço é realizado de segunda a sábado e toda a coleta é destinada às cooperativas de reciclagem credenciadas para recebimento, triagem, separação, armazenamento e comercialização dos resíduos.
O sistema de Cooperativas de Reciclagem foi criado em 2014 e desde 2018, é gerenciado pelo Samae. Atualmente, Jaraguá do Sul conta com 12 cooperativas de reciclagem credenciadas, gerando emprego e renda para aproximadamente 120 pessoas.
Ao mesmo tempo, a cidade combate a coleta clandestina, problema comum a muitos municípios. Os coletores informais acabam criando depósitos irregulares, em locais impróprios e ainda atrapalham os recicladores que trabalham nas cooperativas. Por isso, um grupo de trabalho tenta trazer esses coletores para a formalidade, inserindo-os nas cooperativas de reciclagem.
Por fim, a logística reversa também faz parte do rol de ações do Samae, incluindo Ponto de Entrega Voluntária (PEV) para destino de resíduos eletrônicos, móveis velhos e resíduos volumosos (colchões, sofás, camas, armários), eletrodomésticos, vidros, metais, plásticos e demais itens recicláveis, óleo de cozinha e pneus.
Além do PEV o município conta com mais nove pontos de coleta de resíduos eletrônicos destinados a empresas especializadas neste tipo de reciclagem, retirando de circulação os aparelhos poluentes, que possuem na composição metais pesados, como chumbo e mercúrio; diversos pontos de coleta de lâmpadas e pilhas; pneus, óleos lubrificantes, embalagens de agrotóxicos, dentre outros, também contam com logística reversa.
Geração de resíduos sólidos
Um estudo de gravimetria dos resíduos de Jaraguá do Sul, realizado em 2013, na época da realização do Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, mostrou que do total de resíduos coletados no município, 52% corresponde à matéria orgânica, 18% a rejeitos e 30% a material reciclável.
Assim, considerando que o total de resíduos coletados em 2020 no município foi 40.513 toneladas, 30% desse valor é de material reciclável, ou seja 12.154 toneladas. No mesmo ano, a cidade destinou corretamente 63% dos resíduos com potencial de reciclagem contra 59,5% do índice nacional.
“É um valor bastante alto e que merece ser comemorado, principalmente quando comparado às realidades de diversos municípios brasileiros”, aponta a gerente do Samae.
Os números não diferem muito da gravimetria nacional, onde 45% dos resíduos são de matéria orgânica, 14% são rejeitos e cerca de 35% são recicláveis. Porém, embora a coleta tenha crescido em todo o país, a destinação final é o maior problema, pois 40,5% continua sendo destinado a lixões e aterros, segundo o Panorama de Resíduos Sólidos 2020 da Abrelpe.
Referência para outros municípios
O reaproveitamento de materiais recicláveis promove vários benefícios como a preservação ambiental, a redução da poluição e da contaminação do solo, além da economia de energia.
Sendo assim, os esforços de Jaraguá têm chamado a atenção de outros municípios. “O principal ponto que chama atenção corresponde à gestão do Samae em relação às cooperativas de reciclagem, com fiscalização e controle, e comprometimento de ambas as partes em aprimorar o programa de reciclagem do município”, explica a gerente Morgana Decker.
“Podemos destacar também o engajamento dos moradores na separação dos resíduos e as iniciativas de conscientização realizadas na mídia e durante eventos com a comunidade, levando novos conhecimentos à população, esclarecendo dúvidas e apresentando novas ideias que mostram a importância da reciclagem e seus impactos ambientais, econômicos e sociais”. (Fonte: ND+)