Já há algumas décadas, o tema da sustentabilidade vem ganhando espaço em todos os âmbitos de nossas vidas. De conversas com conhecidos no dia a dia a congressos entre os principais tomadores de decisão do planeta, é praticamente consenso que se trata de uma das pautas mais importantes da contemporaneidade – se não a mais. E essa importância só tende a crescer à medida que os problemas sociais e ambientais decorrentes da ação humana ficam mais iminentes.
Não deveria ser surpresa, portanto, que os consumidores estejam cada vez mais críticos em relação ao impacto que diferentes atores têm na dinâmica social e no meio ambiente. Este olhar está, aos poucos, começando a determinar as marcas e produtos que têm sido preferidos nas gôndolas. Mas a discussão é complexa, pois a disponibilidade dos consumidores para pagar mais por itens sustentáveis não necessariamente acompanha o desejo por esse tipo de produto.
De acordo com a Sustainable Packaging Consumer Research, uma pesquisa sobre Consumo de Embalagens Sustentáveis realizada pela Tetra Pak em 2021, que ouviu mais de 11,5 mil pessoas em 23 países (incluindo o Brasil), as marcas que comunicam de maneira clara e efetiva sobre seus feitos ambientais ganharão mais espaço entre os consumidores. Atualmente, mais da metade dos brasileiros consideram essa informação ao realizarem suas escolhas, sendo que quase a totalidade da população (90%) reconhece como muito relevantes as embalagens produzidas com materiais recicláveis e a criação de novos produtos a partir de matérias-primas recicladas. Além disso, 87% dos consumidores se dizem preocupados ou conscientes em relação a questões ambientais, enquanto apenas 5% se declaram desconectados da pauta.
Os achados também apontam que a preferência por itens e produtos que substituem o plástico se intensificou. Termos como “carbono neutro” e “material de origem responsável” têm ganhado relevância se explicados de maneira rápida e didática para o consumidor. Isso representa uma oportunidade para a indústria de alimentos e bebidas, que pode – e deve – tornar suas cadeias de produção cada vez mais sustentáveis para atender a uma demanda planetária, e que passam, com esse valor agregado aos seus produtos, a atender também às preferências de seus consumidores.
Contudo, apesar dessa nova demanda, ainda estamos numa fase de transição no Brasil, pois nem sempre os consumidores que pressionam empresas por produtos mais sustentáveis estão dispostos a pagar mais por eles. Essa questão representa um dilema para a indústria, visto que, no curto prazo, adaptações sustentáveis de produtos e soluções são custosas, pois exigem transformações grandes em linhas atuais de produção – é um processo gradativo, que não acontece da noite para o dia e que tende a impactar o preço do produto final. Obviamente, o desafio da indústria e consequentemente dos fabricantes no sentido de criar valor em seus produtos continua vivo, para que consumidores não só os entendam como eventualmente estejam dispostos a pagar algo a mais por eles.
Em complemento ao estudo citado anteriormente, a pesquisa global Vida Saudável e Sustentável 2021, realizada pelo Instituto Akatu e pela GlobeScan em 31 países, apontou que 86% dos brasileiros desejam reduzir seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza – portanto, a intenção de rever as escolhas de consumo existe. Contudo, principalmente no pós-pandemia, os consumidores brasileiros esperam das empresas acesso a produtos sustentáveis de baixo custo, demanda que a indústria necessariamente precisará atender, mas inviável em uma perspectiva de curto prazo.
De qualquer forma o caminho rumo à sustentabilidade não tem volta e os dados das pesquisas citadas auxiliam na tomada de decisão de marcas que planejam contribuir em temas urgentes, como a pandemia e a crise climática, impulsionar a adoção de estilos de vida mais sustentáveis por parte dos consumidores e construir uma relação de confiança e compromisso com seus stakeholders. Conforme a demanda pela sustentabilidade cresce, a indústria será cada vez mais pressionada por diferentes atores – consumidores, ONGs e até governos – para seguir este caminho. No entanto, como já mencionei, ainda estamos em transição. (*Por Danilo Zorzan, engenheiro de alimentos e Diretor de Marketing da Tetra Pak Brasil)