De acordo com estudos, em 2050, chegaremos a 10 bilhões de pessoas em todo o mundo. Esse crescimento populacional aumenta também a demanda das indústrias e, consequentemente, a exploração de recursos naturais como matéria-prima. Por isso, é tão necessário pensar agora em soluções que permitam otimizar os processos, para conciliar o aumento da produtividade com a redução dos impactos ambientais, por meio de uma utilização mais eficiente desses recursos.

Acredito que devemos partir da premissa que a mudança para a sustentabilidade começa por cada um de nós e o crescimento dos negócios não pode ocorrer em detrimento das pessoas e do planeta. A reciclagem de liners usados nas etiquetas e matrizes tem sido um desafio para a indústria de rotulagem. Repensar o descarte e removê-los de aterros para, assim, dar um destino nobre a estes materiais. Para que isso aconteça de maneira contínua, é preciso trabalhar a conexão entre os diversos integrantes da cadeia produtiva, para triagem, transporte e busca por medidas eficientes para esses resíduos em cada fase do processo. Estabelecer parcerias entre os diferentes elos da cadeia, desde fornecedores a recicladores, a fim de encontrar soluções mais sustentáveis e novas possibilidades para a transformação desses materiais em novos produtos.

A industrialização e a evolução tecnológica trouxeram inúmeros benefícios para todos os setores, com novos materiais e soluções que transformaram o perfil de consumo, de forma global. O cliente está mais exigente, sempre em busca de inovações, mas tem a responsabilidade ambiental como uma de suas premissas para adquirir produtos e serviços. Essa mudança de comportamento requer das empresas uma nova forma de vender, com uma maior conscientização sobre a necessidade de buscar a sustentabilidade não apenas nos produtos, mas em todos os seus processos de fabricação.

Com esse propósito, algumas das maiores indústrias do setor se uniram recentemente em um consórcio global, focado em economia circular para rótulos. A iniciativa procura trabalhar a consciência ambiental em todos os envolvidos, passando pela produção, uso e descarte de autoadesivos, para reciclagem e reutilização dos resíduos gerados, já que apenas 52% desses materiais estão incluídos no ciclo sustentável. O objetivo do grupo de líderes é engajar, cada vez mais, novos integrantes para que outras empresas da cadeia participem em nível global. Sem dúvida, uma ação que poderá ser um exemplo para indústrias de diversos segmentos, para que a economia circular seja uma breve realidade.

Um dos pontos-chave para o desenvolvimento de produtos que possam ser reaproveitados e reciclados é o design. Com base na economia circular, é possível projetar para transformar diferentes materiais em novos produtos, obtendo ganhos de escala e ainda poupando recursos naturais e minimizando os impactos ao meio ambiente. O designer tem papel fundamental nesse processo, pois será o responsável por identificar a função do produto e como utilizar, da melhor forma, os recursos e materiais para sua fabricação.

Dentro da economia circular, o objetivo é pensar nos produtos de maneira que atendam a vários ciclos, possibilitando às empresas criar, inclusive, novos negócios. Além de minimizar os impactos negativos de um produto em toda sua cadeia de valor, o design circular prevê prolongar a vida útil desse item e possibilitar o retorno de materiais ao sistema, sem causar danos ambientais e sociais, e melhorando as relações com os clientes.

A área de design é essencial na determinação de estratégias para a criação de produtos que apresentarão longevidade, por meio de novos ciclos. Para isso, devem ser considerados aspectos como a isenção de elementos tóxicos que, além de preservar o meio ambiente, permite a reciclagem e reutilização dos materiais de forma segura; e a aplicação de componentes biodegradáveis, que podem retornar à natureza. Essas iniciativas agregam valor aos produtos e criam uma imagem positiva da marca, pois atendem ao novo perfil do consumidor, que tem valorizado cada vez mais empresas que se preocupam com a sustentabilidade.

A verdade é que passamos da hora de repensar a forma de fazermos negócios. Não temos mais tempo ou crédito com o meio ambiente. A economia circular já é uma realidade e está entre as melhores práticas, uma vez que inverte a lógica da economia linear, baseada na extração, produção, uso e descarte de recursos naturais e insumos. O novo modelo prevê um fluxo contínuo de materiais, onde os resíduos são transformados em matéria-prima. Isso significa que nada se perde, tudo se transforma, permitindo um equilíbrio perfeito e abolindo o descarte. Ainda assim, vale lembrar que estamos partindo do básico, pois a reciclagem é apenas uma das etapas do processo. É preciso unir a inteligência humana às soluções disponíveis, reduzir os impactos ambientais sem prejudicar, de fato, o âmbito econômico.

E sua empresa? Está preparada para essa nova era da sustentabilidade?

*Por Cecilia Mazza é gerente de sustentabilidade da Avery Dennison, empresa global de ciência em materiais, especializada no design e produção de uma grande variedade de produtos para rotulagem e funcionais. Via Meio Ambiente Rio