Em 8 meses, família reduz quantidade de lixo que iria para o aterro em 95%

Já pensou se você e sua família pudessem viver um ano sem gerar resíduos? Pois essa tem sido a missão do professor Romulo Rauta, de 51 anos, na casa onde ele vive com a esposa e os dois filhos, em São Luís, no Maranhão. Em julho de 2021, ele decidiu que queria ensinar na prática para os meninos sobre como podemos construir um mundo mais sustentável e melhor para todos. De lá para cá, um pacto foi feito: a família passaria um ano produzindo a menor quantidade possível de resíduos.

“Quando completei 50 anos, fiquei muito pensativo sobre o que estava deixando de legado para os meus meninos. Mais do que um carro, um apartamento, eu quero deixar para eles algo que faça sentido, que agregue para a vida. Percebi que meus filhos sabiam muito sobre a teoria em educação ambiental, mas não sobre a prática. É muito fácil falarmos sobre o que precisa ser feito, mas o como sempre acaba virando uma lacuna. Resolvemos, então, colocar tudo em prática e, ensinar pelo exemplo, que é possível e muito mais fácil do que imaginamos criar um mundo sem lixo. Viramos a “família lixo zero”, conta o professor, que é engenheiro de materiais.

Como gerar menos resíduos em casa?

A primeira etapa foi de planejamento, mas o dia a dia foi ensinando como a família deveria lidar com a produção, armazenamento e reaproveitamento dos resíduos gerados. “Começamos fazendo a separação dos resíduos. Para os materiais secos, criamos um residuário, a partir de um cesto de roupas. Tudo vai para lá. Quando ele enche, nós levamos para o térreo da casa e selecionamos. Plástico é guardado com plástico em um saco, metal com metal e assim por diante”, explica Romulo.

Os resíduos úmidos são armazenados de forma diferente. “Não temos lixeira na pia da cozinha, mas sim um liquidificador. Quando ele enche, processamos e colocamos na composteira, o destino que encontramos para os resíduos orgânicos. A composteira foi fruto de muitos testes, mas conseguimos criar o procedimento correto para não dar larva ou cheiro ruim”, conta.

Vale lembrar que embalagens de alimentos molhados (caixas longa vida de leite, sucos, cremes e leite condensado), garrafas, blister de molhos, potes plásticos e de vidro, etc. devem ser higienizados antes do descarte. Dessa forma evita-se o mal cheiro e infestação por larvas. E nem precisa gastar água potável para lavar as embalagens, basta fazer o reuso da água enquanto a louça está sendo limpa na pia, por exemplo.

O que fazer com os resíduos sólidos?

A decisão de estocar todos os resíduos durante um ano inteiro veio justamente para provar para as pessoas que é possível ser mais sustentável sem que haja transtornos dentro de casa. “Muita gente argumenta que não consegue juntar uma semana sequer os resíduos dentro de casa para que possa fazer uma única viagem de carro até uma cooperativa porque vai dar bicho ou mau cheiro. Decidi que nós armazenaríamos um ano, para provar que é possível.”

Já são mais de oito meses de materiais armazenados de forma organizada na casa. Os únicos descartados são os rejeitos. “Criamos um lugar para o descarte dos rejeitos, como papel higiênico. O caminhão passa um dia sim, outro não, e recolhe. Nossa estimativa é de que ele represente algo, no máximo, em torno de 5%. Conseguimos segurar 95% de tudo que é produzido de resíduos.” Ao fim de ano, a família pretende chamar uma cooperativa para realizar a coleta do material. “Saberemos também quanto isso vale em dinheiro, para termos todos os dados reunidos”, completa Romulo.

Criando hábitos mais circulares

Hoje a família inteira já é muito mais consciente em relação ao que consome. “Sabemos que algumas embalagens não podem ser recicladas, e não compramos. Nossos hábitos mudaram muito, fomos nos corrigindo ao longo desses oito meses.”

Todo o processo é contado em um perfil do Instagram, o @prof.lixozero, que já conta com mais de 5 mil seguidores. Romulo também busca sempre estar atualizado, para poder ensinar os filhos e os alunos sobre economia circular da melhor forma. Assim, acabou conhecendo a Circular Academy, primeira escola aberta de economia circular, criada pelo Movimento Circular. “Achei pelas redes sociais e comecei a fazer as aulas. O conteúdo é muito bacana, vale muito a pena. Também coloquei no meu Instagram, para ajudar a divulgar a iniciativa, que é gratuita. Concluí as aulas e pude participar ainda da Masterclass exclusiva para os primeiros alunos. Foi uma ótima experiência, de muita qualidade”, elogia o professor.

O que é Economia Circular?

A Economia Circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Ou seja, um modelo alternativo ao da Economia Linear – extrair, produzir, usar e descartar – que tem se provado cada vez mais insustentável ao longo da história. Na Economia Circular, a meta é manter os materiais por mais tempo em circulação por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo! Para que esse modelo se torne uma realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações. (Fonte: Movimento Circular)

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