Se tem algo que não mudou desde que a pandemia chegou no Brasil, há mais de 365 dias, foi o aumento da procura por embalagens de papel e papelão em todo o País. Com o crescimento exponencial do e-commerce e a demanda vertiginosa por serviços de delivery, caixas e sacolas em diferentes tamanhos, formatos e materiais se tornaram um produto de primeira necessidade para diversos setores, impactando a indústria de papel.
Porém, ainda no ano passado, no auge dos recordes de pedidos, assim como outras atividades, o setor de celulose, papel e papelão esbarrou em uma importante lacuna: a falta de insumos para produção. Iniciou-se, então, uma corrida desenfreada por material, que desencadeou ainda no aumento dos preços. Somado a isso, a escalada do dólar é outro movimento que vem afetando diretamente as empresas da área.
Quem explica é o presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel e Papelão no Estado de Minas Gerais (Sinpapel), Antônio Eduardo Baggio. Segundo ele, o setor sofreu e continua sofrendo com a elevação do custo das aparas, com o impacto do câmbio sobre insumos e peças, além de uma particularidade: a redução da reciclagem.
Este último, ocorreu em virtude de mudanças no trabalho das cooperativas, catadores de papel e coleta seletiva. É que a diminuição drástica do consumo e descarte de embalagens, que alimentavam a indústria de reciclagem de papel, e o abandono do ofício por muitos catadores por inúmeros motivos, como o recebimento do auxílio emergencial, desabasteceram essa engrenagem da cadeia.
Reciclagem
Mesmo com o aumento expressivo do consumo de embalagens para entregas, uma vez que os serviços de delivery não chegaram a ser suspensos e tornaram-se a única opção para muitos setores, o consumo deste tipo de material não compensou as perdas nos volumes de embalagens recicláveis perdidos por outras atividades. Isso porque os fabricantes de embalagens para lojas e o comércio em geral foram ainda mais afetados na produção de sacolas e caixas, devido aos decretos de limitação do funcionamento das atividades.
“Os impactos foram muito grandes. E o dólar muito valorizado faz com que empresas exportem parte da produção. A balança do setor sempre foi muito equilibrada, não apenas em Minas, mas no Brasil de maneira geral. Assim, a produção que sempre foi a conta da necessidade do mercado interno, agora enfrenta dificuldade para atender a elevada demanda que chega de diferentes setores produtivos”, admite Baggio.
Insumos
Enquanto a indústria de papel trabalha para recuperar a coleta no mesmo nível pré-pandemia, negocia prazos e preços com os clientes. Cenário observado nos primeiros meses deste ano e que, conforme Baggio, deverá seguir até meados de 2021.
“As empresas seguem em atividade normal ou acima do normal para compensar as perdas do ano passado. Ou seja, a demanda continua forte. E todas essas dúvidas e inseguranças causadas pela pandemia têm deixado as pessoas alarmadas com tudo. Assim como acontece e aconteceu com outros produtos, todo mundo quer papel neste momento e acaba comprando mais do
que precisa, levando ao desequilíbrio entre oferta e demanda. Mas esperamos que isso se normalize até junho”, explicou.
Desempenho da indústria de papel
Diante das circunstâncias, o setor localizado no Estado encerrou 2020 com queda de 2,5% no faturamento em relação ao ano anterior, mas conforme o dirigente, algumas empresas de pequeno porte chegaram a amargar perdas de até 20% no mesmo tipo de comparação.
Já para este exercício, as expectativas são melhores: fechar o ano nos mesmos patamares de 2020. Isso para o presidente do Sinpapel significa oportunidade de sobrevivência, de acompanhar mudanças no cenário e esperar por tempos melhores.
“O País passa por essa enorme convulsão em razão do vírus. Aliás, todos os países do mundo estão na mesma situação. A economia brasileira caiu muito menos que outras mais maduras. Por isso, em vistas dessas circunstâncias, empatar é um bom negócio. Enquanto as coisas não se definirem melhor com relação à pandemia, à questão econômica e ao próprio governo, não conseguiremos ter um horizonte mais claro”, argumentou. (Fonte: Diário do Comércio)