O quilo da latinha de alumínio chegou a R$ 10; ainda que catadores recebam mais pelo produto, desemprego levou mais gente a trabalhar no ramo
O preço da latinha de alumínio no mercado de recicláveis bateu recorde e chegou a R$ 10 o quilo cerca de 15 dias atrás. Agora, o produto baixou um pouco e pode ser encontrado na casa de R$ 9 o quilo, o que representa um aumento de 50% em relação ao valor que era pago no mesmo período do ano passado.
A justificativa para essa valorização inédita no mercado é a escassez de produtos disponíveis – em função da pandemia de coronavírus – e também em função da valorização da moeda norte-americana, que dita o preço do produto.
Se o lado positivo dessa equação é o maior valor pago a quem trabalha no ramo, a dificuldade está em justamente encontrar os materiais disponíveis. Até porque, com o aumento do nível de desemprego – cresceu o número de pessoas trabalhando com recolhimento de reciclagens, afirmam as pessoas que atuam na área. “Com o avanço da pandemia e o número de desempregados, aumentou a procura de interessados”, afirma Esley Batista do Carmo, educador social da Associação Rio-pretense de Educação e Saúde, que reúne 40 catadores em Rio Preto.
Ainda que não haja dados, é possível observar pelas ruas da cidade um maior número de pessoas em busca de qualquer tipo de reciclagem – em especial o alumínio, considerado material fino. “Acredito que haja perto de mil pessoas que dependem da reciclagem para sobreviver. Sem trabalho, elas encontram na atividade uma oportunidade de ganha-pão”.
A percepção é a mesma da coordenadora da Cooperativa de Coleta Seletiva, Beneficiamento e Transformação de Materiais Recicláveis (Cooperlagos), Tereza Pagliotto. “Muitas pessoas começaram a sobreviver da reciclagem, não por opção, e em busca do filé mignon (a latinha de alumínio), o que trouxe um impacto grande, uma queda de 50% no volume recebido.”
Isso porque as próprias famílias que faziam suas destinações à cooperativa estão dando os materiais para familiares ou conhecidos que passaram a recolher os itens. “Tendo esse desvio do material de maior valor agregado, não há geração de renda, que é um dos princípios da cooperativa”, disse. Hoje são 64 cooperadores que recebem, em média, R$ 2,3 mil.
Tadeu Marioto, proprietário da Reciclagem Duas Vendas, afirma que o quilo da latinha bateu o recorde de R$ 10, algo que nunca havia acontecido, mas que passou a baixar e hoje está em torno de R$ 9,20. “A matéria-prima está escassa. Tanto que tem carro demorando seis meses para ser entregue. Tudo depende do alumínio”, afirmou.
Ele conta que as garrafas pet também foram valorizadas e hoje o quilo está na casa de R$ 3,90, contra R$ 1,90 no mesmo período do ano passado, uma alta de 143%. “Os materiais plásticos também estão em alta. Apenas o papelão que está ruim, que passou de R$ 1,10 para R$ 0,35”, afirmou.
O mercado está bastante aquecido e não é só no Brasil. É um efeito mundial, afirma Jeferson Roncato, diretor do Ferro Velho Roncato, que existe há 50 anos em Rio Preto. “Os preços dos materiais de alumínio oscilam muito em função do dólar e a tendência no fim do ano é de queda nos preços”.
Hoje, o forte da empresa são as exportações, que ocorrem de acordo com a demanda dos compradores do exterior. “O mercado está favorável, mas tem o impacto da inflação em alta e também da dificuldade em encontrar contêiner para transportar o produto para fora”, disse.
Alternativa de renda
Alternativa de renda, trabalhar com materiais recicláveis é um nicho que atrai quem precisa e quem busca um rendimento melhor. Esse é o caso de Regine Teixeira Santos, 32, anos, que há cerca de cinco meses passou a integrar a Associação Rio-pretense de Educação e Saúde (Ares) e a trabalhar na parte da separação do material que é coletado pelos associados.
Ela conta que trabalhava como empregada doméstica, mas que decidiu mudar de ramo em função da melhor remuneração e de ser um trabalho menos extenuante que o doméstico. “Consigo ter um horário mais flexível, ganho mais e não é um trabalho tão pesado, mas é preciso ser ágil”, afirmou. A renda mensal gira em torno de R$ 1,5 mil a R$ 1,8 mil.
O catador de reciclagem Milton Gonçalves da Silva, 58 anos, está nesse ramo há anos e conta que essa é sua alternativa para sobreviver. Por problemas de saúde, acabou deixando a função de auxiliar de cozinha e com o fim dos grandes eventos – em função da pandemia – parou a venda de salgados.
Hoje, vive apenas do que encontra na ruas – a sua casa, ao lado da cachorrinha Daiane. “Eu pego de tudo: latinha, fios e garrafas pet. O valor depende muito do dia”, conta. Só que, com a pandemia, a concorrência ficou bem maior. “Está mais difícil porque agora tem muita gente pegando latinha e vendendo”, afirma. O trabalho rende entre R$ 600 e R$ 700. “Feliz a gente nunca está, mas estou satisfeito. Todo dia agradeço a Deus a oportunidade de recomeçar.” (Fonte: Diário da Região)