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Pneus, sacolas e recipientes plásticos lotam aterro ao invés de serem reaproveitados

Caxias do Sul é uma cidade 100% atendida pela coleta seletiva, mas ao chegar ao Aterro Rincão das Flores, no limite entre o município e São Francisco de Paula, não é o que parece. Toneladas de materiais recicláveis, que poderiam ser reaproveitados, são desperdiçados todos os dias. De longe já é possível ver sacolas plásticas, garrafas pet e embalagens de salgadinho e latas de cerveja e refrigerante em meio aos resíduos orgânicos. O município conquistou destaque nacional em 2007 por ser modelo em reciclagem de lixo. Com coleta seletiva há 30 anos, é reconhecido pelo pioneirismo no sistema mecanizado realizado com a implantação dos contêineres em 2007. Então o que tem acontecido na cidade?

Com o descarte incorreto, o lixo que poderia ser reaproveitado lota o aterro sanitário comprometendo o meio ambiente e também a renda de parte dos recicladores da cidade e, ainda, provoca prejuízos ao cofres públicos. Isso porque quando se fala em descarte incorreto não é apenas a separação do lixo que não tem sido feita de forma eficiente pela população caxiense. Também há lixões à céu aberto em diversos pontos da cidade.

Além disso, móveis, eletrodomésticos, madeira, galhos de árvores e resíduos da construção civil são colocados dentro dos contêineres, ao lado, ou jogados em áreas isoladas, em meio à mata. Há ainda um problema social, já que aumentou o número de catadores, que ao procurarem por material reciclado acabam deixando o lixo no entorno das lixeiras.

Na Semana do Lixo Zero, que segue até o próximo domingo (31), uma série de reportagens mostrará o atual cenário do lixo em Caxias do Sul. Nesta primeira, explicamos que a população regrediu na separação do lixo, o que tem comprometido também a vida útil do aterro.

Hoje, a Codeca recolhe em média 70 toneladas de lixo seletivo por dia na cidade. São vinte toneladas a menos do que antes da pandemia. Esse material é encaminhado às associações de recicladores. De resíduos orgânicos são cerca de 360 toneladas recolhidas diariamente e encaminhadas ao aterro. O problema, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) começa nas moradias e demais estabelecimentos da cidade na hora de separar o lixo seletivo do orgânico.

“Nessa área de separação do lixo Caxias do Sul tem regredido. Nós não temos nenhuma dúvida. Toda a cidade está separando mal o lixo e misturando o seletivo com o orgânico. Acaba estragando o seletivo”, argumenta o secretário da Semma, João Osório Martins.

Em visita ao aterro, Martins fez questão de retirar uma sacola do meio da montanha de lixo para mostrar o que vem acontecendo na cidade. “Tu olha essa massa de lixo e é um mar branco de plástico. Tem muitas sacolinhas, garrafas de refrigerante e pacote de salgadinho. Os mais variados materiais recicláveis estão vindo parar aqui no Rincão das Flores. Nesta sacola tem mais lixo seletivo do que orgânico”, mostra ele.

Não há um levantamento oficial, mas de acordo com o secretário, quem tem mais poder aquisitivo também é quem mais consome produtos que estão em embalagens descartáveis. “A comida, por exemplo, com a pandemia se compra muito comida embalada, que vem do restaurante pronta e essa embalagem gera muito lixo seletivo. Oficialmente não podemos afirmar qual é a área que mais comete equívocos na hora de separar o lixo, mas a área central é uma das que mais produz esse material seletivo”.

Conscientizar para mudar a realidade

No Fórum de Boas Práticas Luz, Cor e Flor promovido no último sábado (23), teve troca de ideias e experiências sobre assuntos como separação e reciclagem de lixo e compostagem doméstica. O evento integra a Semana Lixo Zero de Caxias, que conta com mais de 140 ações e segue até o dia 30.

“Precisamos dessa ajuda para mudar essa dura realidade. Quem sabe a população ao ver essa quantidade de lixo que poderia ser reutilizado jogada fora no aterro volte a nos ajudar a separar melhor esse material e tirar algum proveito do que ainda tem valor, do que pode ser reciclado”, avalia o secretário do Meio Ambiente.

Ele finaliza: “O ato de não separar o lixo é onde começa todo o problema ambiental e social. Tem aquele que produz muito lixo, em demasia, e quem separa errado. O aterro sanitário começa a ter uma vida útil menor porque ele é feito para processar lixo orgânico e não seletivo. Atrapalha a compactação porque o seletivo não apodrece. Esse comportamento também compromete a renda de parte da população, que durante a pandemia já sofreu grandes perdas financeiras, e depende desse material para ter seu sustento”.

Para que seja reaproveitado, o lixo seco precisar estar limpo, na medida do possível, e não pode estar misturado a resíduos orgânicos. Depois que o lixo é colocado nos contêineres amarelos ou nas lixeiras onde não há coleta mecanizada os materiais passam por uma nova trajetória para que sejam, efetivamente, reaproveitados. (Fonte: GZH – Por Karine Ecker)

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